quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Adiamento

Depois de amanhã, sim, só depois de amanhã... Levarei amanhã a pensar em depois de amanhã, E assim será possível; mas hoje não... Não, hoje nada; hoje não posso. A persistência confusa da minha subjetividade objetiva, O sono da minha vida real, intercalado, O cansaço antecipado e infinito, Um cansaço de mundos para apanhar um elétrico... Esta espécie de alma... Só depois de amanhã... Hoje quero preparar-me, Quero preparar-rne para pensar amanhã no dia seguinte... Ele é que é decisivo. Tenho já o plano traçado; mas não, hoje não traço planos... Amanhã é o dia dos planos. Amanhã sentar-me-ei à secretária para conquistar o mundo; Mas só conquistarei o mundo depois de amanhã... Tenho vontade de chorar, Tenho vontade de chorar muito de repente, de dentro...
Não, não queiram saber mais nada, é segredo, não digo. Só depois de amanhã... Quando era criança o circo de domingo divertia-rne toda a semana. Hoje só me diverte o circo de domingo de toda a semana da minha infância... Depois de amanhã serei outro, A minha vida triunfar-se-á, Todas as minhas qualidades reais de inteligente, lido e prático Serão convocadas por um edital... Mas por um edital de amanhã... Hoje quero dormir, redigirei amanhã... Por hoje, qual é o espetáculo que me repetiria a infância? Mesmo para eu comprar os bilhetes amanhã, Que depois de amanhã é que está bem o espetáculo... Antes, não... Depois de amanhã terei a pose pública que amanhã estudarei. Depois de amanhã serei finalmente o que hoje não posso nunca ser. Só depois de amanhã... Tenho sono como o frio de um cão vadio. Tenho muito sono. Amanhã te direi as palavras, ou depois de amanhã... Sim, talvez só depois de amanhã...
O porvir... Sim, o porvir...
Fernando Pessoa(Álvaro de Campos)

Titulo: ?

Sinto muito frio
Me desculpe
Eu amava aquele momento especial
Diferente de mim
Eu sinto muito frio
Mas isso foi só uma desculpa
E minha face começa a tremer
Os meus pés...
Já não sentem frio
Diferente de mim
Eu sinto sua falta
Aquele momento único
Eu amava
E eu não aguento
Escuto sua voz meiga e suave
Não sei porque quero sair
Qual o problema?
Eu sei que não há mais ninguém
Diferente de mim
Eu quero esquecer
E sentir frio


Mirian Cardoso

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Inconstância

Estar ou não estar?
Eis a inconstância
A cada dia da semana
A cada passo a cada olhar

Estar bêbado ou sóbrio
Que diferença fazerá?

Eu não quero a imobilidade
Ou em mim um sentimento pétreo
Eu quero estar como quero estar
Mesmo que para isso eu esteja ébrio

Estar ou ser?
Que diferença faz
Se é nós ou Shakespeare
Se é isto ou aquilo como já dizia Cecília ?



De: Rodrigo e Luma

Conselho

Eu não tenho medo de dizer o que sinto
Eu tenho medo de que o que eu sinto pode causar
Eu não tenho medo de existir mas confesso que isso é frustrante
De tantas vezes que me perguntei se minha alma é mesmo pequena
Pois quase nada mais vale a pena
É terrível não encontrar nenhum subsídio
Você está aí
Ainda consegue achar tudo lindo
Ainda pensa no futuro
Isso é muito estranho pra mim
Não pense em ironia agora
Procure sempre ver que ainda faz mesmo algum sentido
Não deixe ninguém tirar isso de você

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Berlim

Os diálogos novos
Essa flexibilidade que me deixa desorientado, sem pontos , sem marcações
Os diálogos modernos
Tudo depende disso , daquilo
É mágico!
Nada se tem de forma clara
Cadê a certeza?Isso não existe
A garantia de que se fala
Somente que se fala
Mas nunca do que se fala
Os diálogos que presencio, cheios de imprecisões
Fomos nós
Nós contaminamos o mundo com essa falta de referencial
Com essa falta de homogeneidade
E os dedos que apontam
Já não possuem conclusão absoluta
Não denunciam coisa alguma
Só se sabe que estão estendidos
A vida agora é saber que as coisas existem sem ter que limitá-las